Era uma vez um pequeno passarinho, chamado Dori, que tinha medo de voar. Desde pequeno observava as suas irmãs voando livremente pelo céu e pensava no quanto aquelas aves eram inconseqüentes. Ele dizia para si mesmo: "- Loucas! Imagina só os riscos que elas estão correndo, voando por ai, sem nenhuma segurança.".
Sempre que algum pássaro convidava Dori para percorrer o céu, ele sempre fazia um discurso, listando os riscos que essa aventura oferecia: "- Podemos bater em algum poste ou, meu deus, colidir com um avião! Sabe como andam as estatística de pássaros mortos devido a alguma colisão com aviões? Sem contar que o céu é tão imenso... E se nos perdermos naquela imensidão azul? Eu mesmo não vou. Tenho medo do que posso encontrar lá em cima.". E assim o tempo foi passando e Dori ia sobrevivendo sem nunca ter sentido o gosto de voar.
Suas asas, sem atividade, atrofiaram-se, mas ele não se importou. Havia jurado que viveria naquele ninho onde nasceu e considerava seu porto seguro. O tempo continuou passando e Dori começou a achar a sua rotina "segura" muito entediante. Olhava todos os dias para o céu e tentava imaginar o quanto ele havia perdido ao longo dos dias em que se isolou do mundo. E essa sensação de perda só aumentou, depois da visita de sua irmã, Dorita.
Dorita contou para o irmão diversas histórias sobre suas viagens migratórias, seus vôos espetaculares pelo céu, como foi emocionante o dia em que seus filhotes aprenderam a voar e, juntos a ela, percorreram o céu azul, dando voltas e voltas no ar. Ela foi embora, mas suas palavras continuaram na mente de Dori e um sentimento de angustia preencheu o peito da ave. Ele correu desesperadamente, dando pequenos saltos. Estava tentando voar. Suas asas já não funcionavam corretamente, mas ele não desistiu, continuou tentando.
Dori foi correndo, e pulando, e batendo as asas e, assim, acabou parando à beira de um penhasco. Ele pensou em pular. Hesitou. Calculou os riscos, mas deixou seu instinto de ave falar. Pulou do penhasco, enfim. Por um momento, Dori manteve-se no ar batendo suas asas. Um momento que não compensava o tempo perdido, mas que já valia à pena. Depois a ave desceu em queda livre e desapareceu nas profundezas do penhasco. Seu último pensamento: “Eu não vivi!".
Dell Sales
Fim
Essa pequena história foi escrita por mim, há alguns anos. Nela eu expus, ao meu modo, o conceito de liberdade e de como podemos nos privar da mesma sem nos darmos conta. É uma história triste, reflexiva, parte de minha subjetividade. Espero que gostem.
2 comentários:
Olá Dell,
Hum, eu sabia que já tinha ouvido essa fábula em algum lugar. Dori, esse nome não me era estranho..
Sim, a fábula é bastante interessante e comprova mais ainda sua veia para a literatura. Espero que ela sirva de alguma forma a seus leitores. Que eles percebam o quanto a vida é curta. Não sabemos se teremos outras, então devemos aproveitá-la a cada segundo. Eu até tento vivê-la mais intensamente, mas reconheço, não é das tarefas mais fáceis.
Até mais Dell..
Amigo, eu sabia que você ia reconhecer a história.
Acho que você e minhas irmãs foram os únicos a lê-la quando ela ainda era um simples manuscrito.
Bjiin
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